Olavo: Quem quer que pense, o que quer que seja, pensa que está certo. O que é você ter uma opinião, senão achar que essa opinião é melhor do que a dos outros? Se eu achasse que minha opinião fosse tão boa quanto a sua, então eu não teria nem uma, nem outra. As pessoas fingem que não é assim e dizem respeitar a opinião alheia — é claro que não respeitam. Elas respeitam o seu direito de pensar errado. Isso é outra coisa. Eu posso respeitar o seu direito de ter uma opinião errada, mas não a sua opinião! Se eu respeitasse a sua opinião tanto quanto eu respeito a minha, então eu estaria indeciso, eu não saberia se eu penso como eu mesmo ou como você. O direito ao erro é o direito à experiência. Todo ser humano tem o direito de fazer experiência e de passar pelo erro, em busca de uma conclusão verdadeira. Se é um direito inalienável, então deve ser respeitado. Mas a opinião errada não pode ser tão respeitada quanto a certa. Se o sujeito diz que dois mais dois é igual a cinco, você vai dizer que respeita a opinião dele? Respeita nada, porque essa opinião não vale nada. Isso não quer dizer que você não goste dele e que não o ache um cara bacana, mas que ele está falando besteira. Tudo isso faz parte da hipocrisia brasileira. É um sistema de pressões feito para deprimir e destruir a inteligência. A sociedade brasileira é visceralmente contra o conhecimento. Isto é antigo no Brasil, e é muito pesado, muito feio. E isto é a causa de todos os nossos males, sem exceção.
Vocês lembram-se do depoimento que eu li outro dia do poeta Jorge de Lima [Aula 7, 16/5/09, em 1h17min50s], onde o Graça Aranha tentava convencer as pessoas que elas tinham que se levantar um pouco acima da brutalidade do mundo natural e os caras escolheram fazer exatamente o contrário? Têm que se ferrar. Ah, você quer um negócio telúrico, as flores da natureza, a jibóia, o boi-tatá, o peixe-boi, o boto. Você gosta dessas coisas? Isso é o seu mundo? Isso é o inferno, desgraçado! Ali você está totalmente impotente. Leiam A Selva do Ferreira de Castro e vocês verão que é o único livro que se escreveu sobre a Amazônia, no qual se vê a pressão imensa das forças da natureza e algo do espírito humano. O brasileiro não foi capaz de mostrar isso, ele só mostra o império total das forças da natureza, aquela coisa medonha, cheia de monstros. Como pode gostar de uma coisa dessas? Aí você está chamando os diabos mesmo: “me persigam, acabem comigo”. Isto aí se impregnou na cultura brasileira e nós temos que acabar com isso. O Graça Aranha estava certo. O movimento de 22 estava errado. Eu contrastei esse movimento com o movimento nordestino, em que não havia esse culto a natureza, babando diante da floresta, da mãe-d’água, do boto e tratava, ao invés disso, do drama humano, do ser humano tentando se levantar acima disso.
Vocês vêem aqueles quadros da Tarsila do Amaral, com aqueles caras com uma cabeça minúscula e um pé gigante; vocês acham isso bonito? Leiam o que Monteiro Lobato escreveu sobre a Anita Malfatti — ele estava certo! Cuspia nos quadros da mulher.