Por enquanto, vamos ficar na língua portuguesa, [mas existem algumas línguas que são fundamentais]. Você vai ter que saber muito inglês, porque os americanos traduzem tudo, sem inglês não se faz nada. O que você não acha nas línguas originais, acha em inglês de qualquer maneira. Tem uma coisa chamada “bookfinder.com”, que jamais falhou — pode ser a coisa mais esquisita do universo, eu sempre encontro lá. [Os Americanos] traduziram tudo e, às vezes, eles não sabem mais que aquilo existe. Se você procurar nas universidades, ninguém sabe daquilo, mas você sempre acha uma edição de 1890, alguma coisa assim. Por exemplo, as obras completas de Hegel estão traduzidas em inglês, mas são traduções antigas.
O francês é muito bom para você aprender a escrever em português, porque muitos escritores brasileiros aprenderam com os franceses — Eça de Queiros é quase um escritor francês — e porque a língua francesa literariamente é muito bem trabalhada — o que os caras fazem no francês é maravilhoso. O espanhol, que está bem perto de nós, tem de saber, e, se puder, o italiano também. Você vai ter que ler um pouquinho em cada uma dessas línguas. Capriche no inglês, mas não porque você vai aprender a escrever em inglês. A pior coisa que você pode fazer é tentar aprender a escrever em inglês para passar para o português, como o pessoal faz hoje e só sai merda. Inglês é muito diferente do português. Aprenda o inglês como acesso a fontes de informação, porque eles traduzem tudo, e as traduções são muito boas. E, sobretudo, é a língua de trabalhos acadêmicos — o que você procurar aí de trabalho acadêmico, sempre tem no inglês. O que não tem no inglês, não existe pro mundo de informações acadêmicas. Então, é fundamental para isso, não para aprender a escrever. Esse pessoal que lê muito escritor americano e tenta fazer a mesma coisa em português, só faz porcaria. Você tem de aprender com línguas que sejam afins à sua: o espanhol, o francês, o italiano, e o latim evidentemente. Se aprender latim e ler os discursos de Cícero, você nunca vai perder. Eu não sei quem dizia: “Você quer aprender a escrever? Leia Cícero” — eu acho que é verdade, porque é uma coisa de uma clareza, de uma força muito grande. Mas não vamos falar nisso agora, continua treinando lá com o Napoleão Mendes de Almeida, mais tarde você lê o seu Cícero.